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José Octávio - Historiador |
“Eu sou
eleitor de cabresto de Land Seixas” – era sempre assim que se lhe referia, sob
os protestos de Antonio David, o excelente fotografo e autorizado escritor que
não me entendia:
– Não diga isso! Como integrante do Grupo José Honório, você não pode se rebaixar perante Land!
Mas era exatamente por isso que eu não cessava de repetir o bordão. Sendo o GJHR essencialmente democrático, nos compúnhamos com Land em todas as eleições do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba.
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Land Seixas |
A história do SJP/PB não é fácil de compor. Ultrapassado pela Associação Paraibana de Imprensa (API) que, com Adalberto Barreto e Jório Machado, se tornou, antes de 1964, peça da chamada Aliança Operário-Estudantil-Camponesa, o Sindicato permaneceu na sombra. Até que, ante a redemocratização de 1985, a presidência Peninha lhe ofereceu feição ideológica. Tratava-se de retomar a caminhada anterior a 64.
Foi com a transferência de Pena para o brizolismo carioca, que emergiu a figura de Land Seixas. Programador visual de A União dos tempos de Milton Nóbrega, Tônio, Alexandre Macedo, Frutuoso Chaves e irmãos Almeida, coube-lhe assumir a presidência do Sindicato, com objetivo bem definido: Servir a todos os profissionais da imprensa nas demandas com os empresários e senhores de jornais e estações de radio e televisão.
Nisso, e apesar das restrições de Antonio David, Land Seixas foi incomparável. Transferindo o Sindicato da Índio Piragibe para a Rua da Areia, empenhou-se em campanhas classistas que, sobremaneira, fortaleceram a categoria. Se as eleições sindicais não eram rigorosamente democráticas, para assegurar a continuidade de Land, a prática política o era.
O que terminou gerando problemas. A certa altura, a jornalista Marcela Sitônio, entendeu de contestar Land e, como me pedisse o voto, respondi com uma frase da abertura deste artigo. O que não foi uma boa coisa. Corretíssima, Marcela agiu com dignidade para comigo, mesmo quando nossas relações estremeceram. O problema é que, no Sindicato, eu estava sempre com Land para o que desse e viesse.
Este, aliás, primava por exata retribuição. Nas iniciativas de nosso grupo, sempre se fazia presente, por vezes acompanhado da esposa.
Essa uma das razões por que não posso deixar de prantear a Land Seixas. Com ele, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba firmou trajetória que dificilmente se repetirá.
***
Pouco antes do falecimento de Land, morreu Lima, jogador de futebol do Santos Futebol Clube de São Paulo. Embora, ao contrário de Luiz Augusto de Paiva, colega de João Pessoa – uma Cidade em Quadrinhos (2025), eu não estivesse presente ao histórico 12x0, contra o Botafogo de Ribeirão Preto, na Vila Belmiro, com 8 gols de Pelé, acompanhei o Limoeiro, desde o Juventos da Mooca, até a seleção brasileira de 1966. Nesta, formou o meio de campo, alternadamente, com Gerson e Denílson.
Cunhado de Pelé, era o coringa da equipe por atuar em todas as posições com exceção do goleiro e a ponta esquerda. Tal gerou o curioso racismo às avessas professado pelo alvinegro praiano, por volta dos anos 70.
Contrariamente ao racismo pró-branco analisado por Mario Filho em O Negro no Futebol Brasileiro (1959), o Santos expressou racismo dos pretos, com formação quase toda colored. Para tanto, recuou Lima para a lateral direita, barrando Ismael, recrutado à seleção paulista, e escalou time em que só não eram escuros o goleiro Gilmar, o moreno médio volante Zito e o ponteiro canhoto Pépe: Gilmar; Lima, Djalma Dias, Joel e Geraldino; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pépe.
Para compensar, o Peixe, com Cesar Sampaio, pretinho da Silva no lugar de Zito, escalou o ponta esquerda negro Noriva, que não vingou. Como já focalizei a questão em outras produções esportivas, não paga a pena repeti-la, mas tão somente lamentar o passamento, ao lado de Land Seixas, do médio volante Lima, o coringa da Vila.
Por José Octávio de ARRUDA MELLO - Historiador de ofício, pós-doutorado pelo IEB/USP e
autoria de Historia da Paraíba – Lutas e Resistência (14aed
2023).
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